Foto: Vinicius Becker (Diário)
A decisão do prefeito de Santa Maria, Rodrigo Decimo, de suspender a tramitação da Reforma da Previdência Municipal, divulgada na tarde desta sexta-feira (28), foi recebida como uma vitória tanto pelo Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria (Sinprosm) quanto pelo Sindicato dos Municipários. Em meio à greve que atinge serviços da cidade desde o início de novembro, as duas entidades avaliam que a mobilização conjunta foi determinante para pressionar o governo e afirmam que a retomada do debate só pode ocorrer com diálogo transparente, acesso aos estudos e participação real dos servidores.
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A coordenadora de Formação Sindical e Comunicação do Sinprosm, Celma Pietzak, afirma que o recuo do Executivo atende à principal reivindicação que motivou a paralisação iniciada em 5 de novembro. Ainda assim, ela ressalta que a suspensão da greve não é imediata, já que qualquer decisão deve passar por assembleia. Um novo encontro da categoria está marcado para a próxima quarta-feira (3).
– Entramos em greve por assembleia e só uma assembleia pode decidir a saída. Como a razão que motivou a paralisação foi retirada, será avaliado, mas precisamos submeter à categoria – afirmou.
Celma também reforça que o anúncio do prefeito representa a força das mobilizações unificadas dos servidores.
– Avaliamos como uma grande vitória, não só dos professores, mas de todos os municipários que se somaram à luta para mostrar que aquela reforma era injusta e não servia ao servidor de Santa Maria.
Crítica à falta de construção conjunta do projeto
Embora o prefeito tenha justificado a suspensão dizendo que algumas categorias não tiveram tempo suficiente para analisar os projetos, o Sinprosm discorda dessa interpretação. Para o sindicato, o principal problema foi a falta de construção coletiva durante o processo.
– Nós não tivemos oportunidade de construir esses projetos no conselho consultivo. O diálogo lá não foi efetivo, e nada do que levamos resultou em mudanças nos PLs enviados. Não foi exatamente falta de tempo, mas a forma como tudo foi conduzido – criticou a dirigente.
O sindicato afirma que já havia solicitado formalmente a retirada dos projetos da Câmara e que agora participará da mesa de negociações anunciada pelo prefeito. Segundo a coordenadora, o Sinprosm apresentará não apenas ajustes pontuais, mas propostas estruturais para enfrentar o déficit previdenciário, como aportes de bens e direitos e mudanças no modelo de financiamento.
Municipários dizem que vigilância continua
O Sindicato dos Municipários, que está em greve desde a última segunda (24), também classificou a suspensão como resultado direto da pressão da categoria. A paralisação, aprovada por dez dias, pode ser prorrogada caso não haja avanços concretos.
Em nota enviada à reportagem, a presidente da entidade, Vivian Serpa, declarou:
– Para o sindicato, a decisão é uma vitória da mobilização da categoria. Abertura de diálogo é positiva, mas precisa ser transparente, com acesso aos estudos e participação real dos trabalhadores. Seguimos atentos: suspender não é retirar. O sindicato continuará vigilante para garantir que nenhum direito seja ameaçado.
Além da greve, o sindicato orienta que serviços essenciais mantenham 30% do efetivo para garantir atendimento mínimo à população.
Anúncio da prefeitura
A decisão do Executivo foi divulgada em vídeo publicado nas redes sociais no fim da tarde desta sexta. No pronunciamento, o prefeito reforçou que o Instituto de Previdência (Ipassp) enfrenta grave desequilíbrio financeiro e que a prefeitura tem arcado mensalmente com valores milionários para garantir o pagamento de aposentadorias.
Decimo afirmou que a suspensão não significa abandonar as mudanças, mas ampliar o diálogo antes da retomada da discussão na Câmara. Ele anunciou também a criação de uma mesa permanente de negociações, com participação de vereadores da base e da oposição, sindicatos e categorias que serão diretamente afetadas pela reforma.
O que prevê a Reforma da Previdência Municipal
O pacote de projetos apresentado pelo Executivo em 3 de novembro propõe mudanças profundas no Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) do município. Entre os principais pontos estão:
Alíquotas progressivas para servidores ativos
Hoje, todos contribuem com 14%. Com o novo modelo, haveria faixas:
- Até R$ 4.190,83: 14%
- De R$ 4.190,84 a R$ 8.157,41: 16,5%
- De R$ 8.157,42 a R$ 13.969,49: 19%
- Acima de R$ 13.969,49: 21,5%
Alteração das idades mínimas para aposentadoria
- Servidores homens: de 60 para 65 anos
- Servidores mulheres: de 55 para 62 anos
- Professores homens: de 55 para 60 anos
- Professoras: de 50 para 57 anos
- Tempo de contribuição passa para 25 anos em todas as categorias
Aumento da contribuição patronal
- A alíquota paga pela prefeitura ao sistema passa de 23% para 28%.
Justificativa econômica
Segundo o Executivo, o Ipassp não consegue pagar a folha de aposentados sem aportes extras. Em 2025, a previsão é de R$ 215 milhões direcionados ao instituto, valor que, segundo o governo, compromete investimentos em outras áreas e impede avanços como revisão geral anual e melhorias de carreira.